segunda-feira, março 26, 2007

A produção avança...

...e a história ganha forma.

Já sabemos tudo o q se vai passar, mas tudo não vos podemos contar.
Estas são apenas algumas imagens que seleccionámos do storyboard.

Clique para ver imagem

Uma brisa sopra...

Clique para ver a imagem

...e leva-nos para longe...

Clique para ver a imagem

...para lugares distantes...

Clique para ver a imagem

...e sombrios.

A brisa veio-nos contar um segredo do próximo post.

quinta-feira, março 01, 2007

Descrição dos personagens:

O vento soprou, bem perto da aldeia… e rodopiando entre as casas encontrou alguns dos seus habitantes:



Tadeu - Homem possante, e nitidamente pouco inteligente. Exalta-se quando todos gritam e junta a sua voz aos demais, sem perceber contudo bem qual o motivo. Rodeado pela sua extensa família. Grita e pragueja muito... o alcool ajuda!

Virgolina - Mulher resignada. Forte e baixa. Apenas se manifesta quando o marido se cala, o que é raro. À semelhança do esposo junta-se às vozes que acusam sem questionar. Rodeada de 7 filhos, dois deles ao colo.



Jacinto - Homem franzino, de estatura média, mas muito enérgico e reacionário. Resultado de uma paixão não confessa por Ábia, e totalmente ignorada, sente agora por esta um grande ressentimento. Solteiro amargo e rude. Tem um risinho e tiques nervosos.

Sebastião - Homem gordo e constantemente alcoolizado. Particularmente violento resultado da sua visão distorcida da realidade. Sempre acompanhado de uma forquilha e da garrafa.

Bento - Homem possante e ponderado. A sua grande preocupação reside na proteção da sua família e é essa a razão pela qual se envolve na milicia organizada pelo padre da aldeia.



Justina - A maior beata da aldeia. Ainda em criança, sofre uma queimadura no rosto, deixando-a para sempre marcada pela inveja por tudo o que é belo. O seu único companheiro é um rafeiro nervoso sempre a ladrar.

Soeiro - Homem gordo, alto e possante visivelmente marcado pela sua profissão (cicatrizes/queimaduras nas mãos e cara). É o ferreiro da aldeia e um dos líderes de opinião juntamente com o padre. O facto de todos precisarem, de alguma forma, dele (ferramentas, utensílios domésticos, etc.) dá-lhe destaque na organização social. É fascinado pelo poder mitico do fogo.

Serafim - Padre da aldeia. Homem alto e seco. A austeridade que aparenta esconde uma alma amedrontada. Foi educado na idéia do Deus Castigador e segue os preceitos mais ortodoxos para manter a ira do seu Deus afastada de sí e da aldeia. Lidera a milicia contra Ábia com toda a convição e fanatismo.




A frieza da aldeia afastou o vento para a floresta onde tudo é mais verdadeiro e natural. Entre as árvores, descobriu um pequeno casebre…onde escutou outras estórias.

Abia - A mãe falecera no seu nascimento. Foi entregue a um convento muito nova quando morreu o seu pai. Desde muito cedo percebeu que nem só de oração e clausura vivia a sua superiora. A sua beleza atraia a tentação da carne por parte de quem a devia orientar espiritualmente. O seu espírito rebelde e lutador impediu que aceitasse essa submissão o que lhe causou muita dor e sofrimento. Contudo, sofria em silêncio para não denunciar o que lhe ia na alma...fugir. A visita mensal do cónego ao convento era a altura que mais a amendrontava pois ele próprio certificava-se de “apaziguar” os seus males com os seus métodos tão pouco espirituais. As suas penitências engravidaram a fadada rapariga, agora já mulher.

Assim que pôde fugiu, antes mesmo de alguém descobrir, pois seria concerteza “obra do Diabo” e ela seria, uma vez, mais punida. Jurou jamais dobrar as costas a um Deus que tinha como representantes homens e mulheres tão cruéis. Voltou para a terra dos seus pais. A sua casa ficava um pouco distante da aldeia que ela guardava ténues memórias de criança.

Agora a sua existência tinha um propósito. Gerar uma vida e preservá-la da maldade dos homens. Assim, isolada e longe dos olhares dos aldeões deu à luz uma linda menina. Cada uma era o centro do Mundo da outra e viviam com dificuldades mas felizes. Salva foi o nome que lhe deu, pois naquela criança estava a sua redenção. Ensinou-lhe letras e números, contos e histórias e tudo o que lhe pudesse ensinar de forma a preservá-la das más intenções dos Homens.

Raramente visitavam a aldeia. Desde que a aldeia tinha descoberto que Abia tinha fugido grávida do convento que era motivo de escárnio e desconfiança. Poucos eram os que as olhavam como simples mãe e filha.

O isolamento das duas favorecia a superstição e eram normalmente apontadas como o motivo dos azares e precalços dos demais. Cada vez que tentavam espreitar a sua casa, encalhavam com amuletos e armadilhas engenhosamente criados para manter os aldeões longe, e assim aumentava a desconfiança e o mito.

Quando começaram a aparecer animais mortos pelos pastos, ninguém contrariou a opinião do padre, decretada com toda propriedade que aquilo “era obra do Diabo”. Abia era agora o alvo da ira da aldeia pois quem mais podia ter levado a cabo tão horríveis actos?!...A Bruxa!

Salva tinha agora 9 anos.

Salva - Desde muito cedo que demonstrou uma sensibilidade muito especial. Ainda com tenra idade, puxava a mãe pelos polegares para lhe mostrar com orgulho as suas brincadeiras. Deitava-se imóvel na terra, tanto tempo quanto aguentasse, e as plantas e os bichos logo a reclamavam como sua e em poucos minutos estava coberta por raizes, flores, pássaros. Esforçava-se para não rir das cócegas que as formigas faziam a correr apressadamente nas suas pernas nos seus afazeres inadiáveis, comovia-se com as baladas que o vento fazia ao soprar nas folhas dos ulmeiros, inebriava-se com todos os aromas que conseguia diferenciar no cheiro da terra. Parecia que Salva e a Natureza se fundiam, numa percepção e entendimento mútuos.

Nunca percebeu a crueldade com que as outras crianças a tratavam, sempre a troçar dos seus cabelos cheios de folhas e aranhas ou dos abraços ternurentos que dava às arvores. Até aos 9 anos foi feliz mas consciente que de alguma forma era diferente dos demais. Depois o mundo dela… desapareceu.

Certo dia, os aldeões irromperam irados pela sua casa e levaram a sua mãe de rastos entre gritos e blasfémias. Salva presenciou tudo.
As últimas palavras de sua mãe ficaram para sempre cravadas a fogo na sua memória.

Desde esse dia, religiosamente, todos os dias plantava uma árvore, criando ano após ano um escudo quase impenetrável duma floresta densa e negra como o seu coração.

Salva tinha agora 66 anos.



Uma folha levantou-se do chão e foi levada para o rio onde o vento descansou.